Numa das curvas da vida, o dedo sagrado de Deus virou a página de encontrar Zeca Maravilha, meu irmão de sangue e “parceiraço” de trabalho na Difusorinha de Pindamonhangaba.
Parece ter sido num tempo não muito distante, haja vista o
tempo de Deus ser diferente do ansioso tempo coordenado pelas máquinas de
tic-tac ou pelos atuais e moderníssimos relógios digitais inteligentes.
Tecnologia de controle dos humanos, pois a proposta de facilitar
a vida de todos estabelece acomodação, aumenta as barrigas, diminui o
raciocínio nativo e, até, propõe mudanças de como se medir o tempo, os espaços,
as imagens gravadas ou os clics (não obrigatoriamente mais sonoros) das “maquininhas
de prender sorrisos” fazedoras de selfies...
Quando, então, as últimas pás de terra soaram num baque seco
sobre o caixão do mano Zeca, foi tempo de nos organizarmos para darmos soluções
aos inevitáveis “buracos” havidos por conta de sua passagem.
Éramos parceiros de serviço e filhos do mesmo casal.
Fraternos, assim como todos quantos “trampavam” na ZYR-47. Era um tanto bom de
brothers...
Com autorização do também saudoso Percy Lacerda, arrombamos
(literalmente) a gaveta da mesa do Zeca. Ele era o programador da emissora, o
discotecário.
Encontramos, lá, um maço de cigarros Hollywood, um isqueiro
Bic, uma caixa de fósforos, alguns trocados... Havia, até uma nota de cinco,
com a efígie do Barão do Rio Branco.
Umas fotos de amigas do Zeca, alguns discos compactos
simples promocionais... Lembro-me de Twins cantando “Tenderness”...
Mais uma mexida nas coisas e dois textos: “Pindamonhangaba
das Bicicletas Amarelas”, assinado por “Zeca Maravilha Rides Again” e um outro,
sem título, bem curto, assim: “Quando morrer um amigo meu, eu não vou chorar,
não vou lamentar, nem praguejar. O verdadeiro sentimento se manifesta no
recolhimento e ganha nome de saudade”.
Foi a melhor herança deixada pelo mano Zeca...
Saudade gostosa, das noites de voltar para casa, cansados,
com a certeza do dever cumprido e assobiando alguma coisa como “Que maravilha”,
do Jorge Ben.
Essa saudade gostosa foi reaquecida hoje, ao sabermos da
passagem de outro mano de trabalho, o Nelson Gama; o Nelsão; o Din-don (Zeca dizia ser uma das alcunhas do querido
amigo Nelson Gama).
Ainda ontem cruzamos com ele, no condomínio onde moramos e
ele morava.
Trocamos algumas palavras, sobre a nossa carreira de
radialistas e sobre os destinos da empresa, a qual parece estar se esvaindo dos
objetivos iniciais.
Nelsão Din-don pareceu-me triste e notei seus olhos um tanto
marejados, apesar de estar com muito daquele sorriso amplo de sempre.
Após nos falarmos, nos despedimos, ele foi para casa e nós
seguimos para a nossa.
Sabem aquele bilhete sem título do meu mano Zeca Maravilha?
Então, fica valendo para marcarmos o passamento do mano
Nelson Gama, com o direito a parafrasearmos o trovador pindamonhangabense João
Martins de Almeida: “Saudade é dor que dá e faz a gente sofrer / mas a gente
pega e cutuca, pra não deixar de doer”.
Descanse em Paz, estimado Nelson.
Zeca vai gostar de ter mais um parceiro por lá...
Deus os abençoe e nos anime.
Marcos Ivan de Carvalho
Jornalista Independente ME91.207/SP