domingo, 10 de abril de 2022

A CONSTATAÇÃO DE UMA FRASE HERDADA DE MEU IRMÃO

 

 Numa das curvas da vida, o dedo sagrado de Deus virou a página de encontrar Zeca Maravilha, meu irmão de sangue e “parceiraço” de trabalho na Difusorinha de Pindamonhangaba.

Parece ter sido num tempo não muito distante, haja vista o tempo de Deus ser diferente do ansioso tempo coordenado pelas máquinas de tic-tac ou pelos atuais e moderníssimos relógios digitais inteligentes.

Tecnologia de controle dos humanos, pois a proposta de facilitar a vida de todos estabelece acomodação, aumenta as barrigas, diminui o raciocínio nativo e, até, propõe mudanças de como se medir o tempo, os espaços, as imagens gravadas ou os clics (não obrigatoriamente mais sonoros) das “maquininhas de prender sorrisos” fazedoras de selfies...

Quando, então, as últimas pás de terra soaram num baque seco sobre o caixão do mano Zeca, foi tempo de nos organizarmos para darmos soluções aos inevitáveis “buracos” havidos por conta de sua passagem.

Éramos parceiros de serviço e filhos do mesmo casal. Fraternos, assim como todos quantos “trampavam” na ZYR-47. Era um tanto bom de brothers...

Com autorização do também saudoso Percy Lacerda, arrombamos (literalmente) a gaveta da mesa do Zeca. Ele era o programador da emissora, o discotecário.

Encontramos, lá, um maço de cigarros Hollywood, um isqueiro Bic, uma caixa de fósforos, alguns trocados... Havia, até uma nota de cinco, com a efígie do Barão do Rio Branco.

Umas fotos de amigas do Zeca, alguns discos compactos simples promocionais... Lembro-me de Twins cantando “Tenderness”...

Mais uma mexida nas coisas e dois textos: “Pindamonhangaba das Bicicletas Amarelas”, assinado por “Zeca Maravilha Rides Again” e um outro, sem título, bem curto, assim: “Quando morrer um amigo meu, eu não vou chorar, não vou lamentar, nem praguejar. O verdadeiro sentimento se manifesta no recolhimento e ganha nome de saudade”.

Foi a melhor herança deixada pelo mano Zeca...

Saudade gostosa, das noites de voltar para casa, cansados, com a certeza do dever cumprido e assobiando alguma coisa como “Que maravilha”, do Jorge Ben.

Essa saudade gostosa foi reaquecida hoje, ao sabermos da passagem de outro mano de trabalho, o Nelson Gama; o Nelsão; o Din-don  (Zeca dizia ser uma das alcunhas do querido amigo Nelson Gama).

Ainda ontem cruzamos com ele, no condomínio onde moramos e ele morava.

Trocamos algumas palavras, sobre a nossa carreira de radialistas e sobre os destinos da empresa, a qual parece estar se esvaindo dos objetivos iniciais.

Nelsão Din-don pareceu-me triste e notei seus olhos um tanto marejados, apesar de estar com muito daquele sorriso amplo de sempre.

Após nos falarmos, nos despedimos, ele foi para casa e nós seguimos para a nossa.

Sabem aquele bilhete sem título do meu mano Zeca Maravilha?

Então, fica valendo para marcarmos o passamento do mano Nelson Gama, com o direito a parafrasearmos o trovador pindamonhangabense João Martins de Almeida: “Saudade é dor que dá e faz a gente sofrer / mas a gente pega e cutuca, pra não deixar de doer”.

Descanse em Paz, estimado Nelson.

Zeca vai gostar de ter mais um parceiro por lá...

Deus os abençoe e nos anime.

Marcos Ivan de Carvalho

Jornalista Independente ME91.207/SP

 

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